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17 11 2015

Terça feira, 17   de novembro de 2015

degelo12

O degelo

Para os caçadores da Gronelândia, o desaparecimento do gelo poderá significar o fim do seu modo de vida.

Numa noite tranquila de novembro, na aldeia de Niaqornat, cerca de 500km  a norte do círculo polar ártico na costa ocidental da Gronelândia, os cães começam a uivar. Ninguém percebe a razão, mas alguns aldeãos suspeitam que os cães terão ouvido a respiração dos narvais. Nesta época do ano, estas baleias com estranhos espigões, cópias reais do mito dos unicórnios, costumam entrar no fiorde durante a sua migração para sul. Na manhã seguinte, a maioria dos homens da comunidade parte em pequenas embarcações para tentar capturar um narval, prática antiga entre os inuit da Gronelândia.(…)

Nessa tarde, sob um céu  cinzento com nuvens baixas, os caçadores regressam, arrastando as embarcações até terra. Alguns dos restantes moradores de Niaqornat emergem das casas de madeira pintadas a cores vivas e juntam-se a eles na praia, ansiosos por ver o que os barcos trazem.(…)

Talvez os narvais escapassem aos seus caçadores. Ou talvez nem sequer lá estivessem e ainda se encontrassem nos seus territórios de verão, mais a norte, não tendo ainda sido empurrados para sul pela deslocação do gelo marinho.(…)

Os jovens estão a abandonar as aldeias de caçadores. Alguns aldeãos têm dificuldade em sustentar-se. Esta cultura que evoluiu aqui ao longo de séculos, adaptando-se a avanços e recuos sazonais do gelo marinho, enfrenta a possibilidade de o gelo recuar para sempre. Conseguirá uma cultura destas sobreviver? O que se perderá caso não consiga? (…)

Texto de Tim Folger

Revista National Geographic

 

Texto selecionado pela BE