Prémio Nobel da Literatura

15 10 2012

 

 

Mo Yan, Nobel de Literatura de 2012. O escritor chinês foi  galardoado pela  Academia Sueca.

“Mo Yan”, que significa “não fales” em chinês, é um pseudónimo. O seu verdadeiro nome é Guan Moye e é conhecido principalmente pela adaptação cinematográfica de uma de suas novelas, que, com o título de “Sorgo rojo, levou a cabo o diretor Zhang Yimou.

Depois de trabalhar numa fábrica de petróleo, o Nobel de Literatura entrou no Exército Popular de Libertação chinês. Enquanto soldado começou a escrever influenciado por escritores ocidentais, em especial Gabriel García Márquez, Tolstói e Faulkner, apesar ser conhecido sobretudo como “o Kafka chinês”.

Mo Yan “mostra nos seus contos populares um realismo alucinatório sobre a história atual e contemporânea”, salientou o porta-voz do Comité Nobel ao anunciar a atribuição do prémio.





Concurso Nacional de Leitura

14 01 2012





Concurso nacional de leitura na Ancorensis

9 01 2012





Um projeto inovador em português

20 11 2011

“Portable Cloud”, de Adalberto Rodrigues e Ricardo Barbosa Vicente, foi o vencedor da área Consumo do Movimento Milénio. O projeto prevê a criação de nuvens portáteis capazes de gerar água potável em zonas onde este meio é escasso.





«José e Pilar» é o documentário português candidato aos Óscares

12 11 2011

” O documentário de Miguel Gonçalves Mendes, é o candidato português aos Óscares de Hollywood, informou hoje à agência Lusa o Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA).

Co-produzido pelo realizador brasileiro Fernando Meirelles e pelo realizador espanhol Pedro Almodóvar, que são membros da Academia Americana de Artes e Ciências Cinematográficas, “José e Pilar” é um documentário sobre a vida em comum do escritor e Nobel português da Literatura, José Saramago, e da sua companheira de décadas, a jornalista e tradutora luso-espanhola Pilar del Río.

O filme foi o escolhido para representar Portugal na corrida à nomeação para Melhor Filme Estrangeiro, «por uma comissão composta por representantes de associações do sector, previamente submetida à aprovação da Academia Americana de Artes e Ciências Cinematográficas», refere o ICA, em comunicado.

Estreado em Portugal, Espanha e Brasil, o documentário será distribuído nos Estados Unidos pela Outsider Pictures, disse à Lusa, recentemente, o realizador Miguel Gonçalves Mendes.

A petição pública dirigida ao ICA que foi criada na Internet pedindo que “José e Pilar” fosse o candidato de Portugal a uma nomeação para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro somou, até hoje, 2.439 assinaturas.

Os nomeados para os Óscares de 2012 serão conhecidos a 24 de janeiro. A cerimónia decorrerá no dia 26 de fevereiro em Los Angeles, Califórnia.

Portugal nunca conseguiu uma nomeação para o Óscar de melhor filme estrangeiro. Em 2010, o candidato de Portugal nesta categoria foi “Morrer como um homem”, de João Pedro Rodrigues.”





Vencedores do concurso “Páginas soltas”

9 11 2011




Concurso “Páginas Soltas”

30 10 2011

Categoria ensino básico: texto nº 9

(…)

Mas talvez Noemi tivesse razão nas suas constantes dúvidas  existenciais. Seríamos realmente fortes e capazes de lutar contra a Sociedade para salvar os dois mundos? Eu achava que era demasiado para umas rapariguinhas como nós… Agarrei numa revista de moda que estava em cima da mesa à minha frente e comecei a folheá-la para me distrair. Vi a fotografia de uma árvore de Natal e reparei que Riddel não tinha nenhuma. Que mulher amarga e solitária. De certa forma, tinha pena dela. Sem família, e a noite de Natal era já amanhã… Bem, em princípio eu também não teria família na noite de Natal. Tinha recebido um telefonema dos meus pais a dizer que os voos tinham sido cancelados por causa da neve… Mas o que é aquilo?!…

Richart saía da casa de banho em tronco nu e com uma minúscula toalha de mãos á cintura. Mesmo estando habituada a estar com rapazes naquele estado, não consegui evitar corar a pele morena do meu rosto. Ele tinha insistido para tomarmos banho assim que chegámos a casa. Dizia que se sentia sujo do combate. E esteve no chuveiro pelo menos quarenta minutos. Ele era realmente muito loiro, musculoso com uma pele linda e um masculino maxilar perfeito. Parecia um autêntico príncipe de conto de fadas! Ou entao, um modelo. Mais giro que os homens da revista nas minhas mãos.

– Realmente, aqui na Terra os chuveiros são fantásticos! Nem é preciso colocar orbes na água para aquecê-la; já sai quente do cano. É fantástico! Mas, Lorelei, olha para isto! Eu estou nojento, estou horrível. Olha para aqui! – Ele estava com uma expressão de derrota e apontava para três minúsculas borbulhas vermelhas no seu imenso peito musculado.

– Aaah… mas isso nem se nota Richart! Estás fantástico, não te preocupes. – Eu não conseguia falar com ele com tanta confiança como ele falava comigo. Afinal, eu nem o conhecia e achava-o um oferecido por aparecer assim ao pé de mim.

– Não percebes, isto vai dar cabo da minha reputação. Espera, vou vestir-me e explico-te tudo. – Saiu para o quarto de Riddel para vestir a sua roupa real.

(…)

Categoria ensino secundário: texto nº 9

(…)

                Priscilla tinha aparecido como o coelho que sai da cartola de um prestidigitador. Tinha vinte e cinco anos, um passado de dificuldades económicas e familiares e um marido que, depois de a ter engravidado, tinha fugido para o Japão com uma enfermeira inglesa. Tinha vivido nas filipinas com mais nove irmãos e os pais numa barraca onde esgaravatavam as galinhas. Teve, do marido, uma menina que sofria do coração e precisava de dinheiro para a tratar. Por isso partiu, como clandestina, desembarcou em Amesterdão e dali chegou a Itália, onde encontrou uma tia que a pôs a trabalhar em casa de uma senhora de idade. A tia queria metade do ordenado por lhe ter arranjado trabalho. A senhora morreu ao fim de dois meses e ela foi trabalhar para casa de uma outra senhora, rica, que para a castigar pelos seus erros a fechava na varanda, no exterior, em pleno mês de Janeiro. Nessa altura, pediu ajuda a umas freiras. Fora então que Sofia a descobriu.

                A lista das complicações que Priscilla arranjava na casa dos Donelli era inesgotável. Mas era simpática, optimista e relativamente fiável. Penelope gostava dela. Com muita paciência da sua parte e muita boa vontade da parte da filipina, tinham instaurado uma convivência aceitável. Até aparecer Muhamed, o egípicio, que trabalhava num night club e queria convertê-la à religião muçulmana e mandá-la para o Egipto tomar conta dos seus velhos pais. Priscilla recusou-se a satisfazer as suas exigências. Periodicamente, ele acusava-a de ter amantes e batia-lhe. Ela chorava, mas tinha orgulho em ter um homem ciumento. Penelope censurava-a por aquela submissão e explicava-lhe a importância da dignidade. Priscilla dizia: – Sim, tem razão, minha senhora. – E depois espicaçava-a: – Mas parece-me que o senhor Donelli é um bocado como o Muhamed. Berra e parte tudo. Depois traz-lhe uma prenda e a senhora sorri.

                Penelope ficava furiosa. – Ele nunca levantou um dedo para me agredir – sublinhava.

                – Mas engana-a. O Muhamed não. Portanto, estamos quites – concluía com o seu eterno sorriso.

(…)

 





Concurso “Páginas Soltas”

27 10 2011

Categoria ensino básico: texto nº 8

(…)

A professora Trelawney aproximou-se do lume e viram que era extremamente magra. Os óculos enormes aumentavam-lhe os olhos, multiplicando várias vezes a sua dimensão natural e estava enrolada num xaile de gaze e lantejoulas. Vários fios e contas envolviam-lhe delicadamente o pescoço enquanto as mãos e os braços ostentavam pulseiras e anéis.

                -Sentem-se, crianças, sentem-se. – disse. E todos eles subiram desastradamente para as cadeiras ou afundaram-se nos poufs. Harry, Ron e Hermione sentaram-se em volta da mesma mesa redonda.

                -Bem-vindos à Adivinhação – disse a professora Trelawney que se sentara numa poltrona de orelhas em frente do lume. ­­- Eu sou a professora Trelawney. É provável que nunca me tenham visto. Eu desço poucas vezes para a multidão da escola. Obscurece a minha visão interior.

                Ninguém abriu a boca a esta extraordinária informação. A professora Trelawney compôs delicadamente o xaile e continuou: – Então vocês escolheram estudar Adivinhação, a mais difícil de todas as artes mágicas. Devo prevenir-vos, já no começo, de que se não tiverem a visão, não poderei ensinar-vos grandes coisas. Os livros só nos levarão longe nesta matéria se …

                Ao ouvir estas palavras, Harry e Ron olharam um para o outro, sorrindo á Hermione que estava estarrecida com a ideia de os livros não poderem ajudá-la naquela matéria.

                – Muitas bruxas e feiticeiros bastante talentosos na área dos sons agudos, dos cheiros e dos desaparecimentos súbitos, mostraram-se incapazes de penetrar nos mistérios velados do futuro – prosseguiu a professora Trelawney com os seus olhos enormes e brilhantes, saltando de um para outro rosto ansioso. É um dom que muito poucos possuem. Tu, rapaz – disse dirigindo-se ao Neville que quase caiu do pouf abaixo. – A tua avó está bem?

                Acho que sim – respondeu o Neville a tremer.

                Eu, no teu lugar, não teria tanta certeza, filho – disse a professora Trelawney com a luz a brilhar nos seus longos brincos de esmeraldas.

                Neville engoliu em seco. A professora prosseguiu tranquilamente: – Abordaremos este ano os métodos básicos de adivinhação. O primeiro período será dedicado á leitura nas folhas de chá. No período seguinte evoluiremos para a quiromancia. A propósito, minha querida – dirigiu-se a Parvati Patil -, cuidado com o homem de cabelos ruivos.

                Parvati olhou de esguelha para o Ron que estava mesmo atrás dela e afastou a cadeira.

                – No período de Verão – continuou a professora Trelawney – passaremos às bolas de cristal, se já tivermos terminado os presságios de fogo, claro. Infelizmente as aulas serão interrompidas em Fevereiro por um surto de gripe em que eu própria ficarei afónica. E, pela Páscoa, um de nós deixar-nos-á para sempre.

                Um silêncio angustiante seguiu-se a esta informação, mas a professora Trelawney pareceu não dar por isso. – Será que poderias, minha filha – pediu a Lavender Brown que estava mais próximo dela e estremeceu na cadeira -, passar-me o bule maior de prata?

                Lavender, com um ar aliviado, levantou-se, retirou o enorme bule da prateleira e pousou-o sobre a mesa em frente da professora Trelawney.

(…)

Categoria ensino secundário: texto nº 8

(…)

-Como é que aguentas?

Sofia acenou-lhe com a mão e prosseguiu. Mas não andara muito quando viu uma rapariga sentada sozinha debaixo de uma árvore grande. A pequena estava vestida com andrajos e parecia pálida e doente. Quando Sofia passou, enfiou a mão num pequeno saco e tirou uma caixa de fósforos.

-Queres comprar fósforos? -perguntou.

-Quanto custam?

Sofia deu a coroa à pequena e ficou imóvel com a caixa de fósforos nas mãos.

-És a primeira pessoa que me compra alguma coisa há mais de cem anos. Às vezes, passo fome, às vezes, fico com frio.

  Sofia pensou que não era de admirar que a pequena não conseguisse vender fósforos no meio do bosque. Mas lembrou-se do homem de negócios rico. A rapariga não tinha necessidade de passar fome, se ele tinha tanto dinheiro.

-Vem comigo – disse Sofia.

Pegou na mão da pequena e levou-a consigo para junto do homem rico.

– Tens de fazer com que esta rapariga tenha uma vida melhor – afirmou.

O homem levantou os olhos dos seus papéis e declarou:

-Isso custa dinheiro, e eu já te disse que não se pode desperdiçar um centavo sequer.

-Mas é injusto que tu sejas tão rico e ela tão pobre – insistiu Sofia.

-Que disparate! Só há justiça entre iguais.

-O que queres dizer com isso?

-Eu venci pelo trabalho e o trabalho deu os seus frutos. Chama-se a isso progresso.

-Vejam só!

-Se não me ajudas, eu morro – disse a rapariga pobre.

O homem de negócios voltou a levantar os olhos dos papéis. Depois, atirou com a pena para a mesa num gesto impaciente.

-Tu não fazes parte da minha contabilidade. Por isso, vai para o asilo.

-Se não me ajudas, incendeio o bosque – disse a rapariga pobre.

O homem só então se levantou da sua escrivaninha, mas a rapariga já tinha acendido um fósforo. Levou-o a alguns tufos de erva seca que se incendiaram imediatamente.

  (…)





Concurso “páginas soltas”

23 10 2011

Categoria ensino básico: texto nº 7

(…)

Implorei-lhe que não a mandasse. Ela disse que ia pensar nisso e pô-la por detráz da caixa do pão.

Segunda-feira, 4 de Outubro

Nada de cheque!

Terça-feira, 5 de Outubro

Nada que chegue!

Hoje a minha mãe estourou. Telefonou para a estação de rádio local e disse-lhes que ia abandonar o filho nos escritórios de Segurança Social se não lhe dessem o cheque.

O meu despertador digital acordou-me com o som da voz da minha mãe a contar as nossas dificuldades financeiras através de ondas de rádio. Ela estava lá em baixo a falar ao telefone com Mitchell Malone, disc-jockey atrasado mental! A minha mãe disse que me ia abandonar nos escritórios de Sergurança Social a menos que o director a contactasse até ao meio-dia.

O Mitchell Malone ficou excitado à brava e disse:
«Ouvintes, estamos perante um alerta total. Será que Pauline Mole, mãe grávida e sozinha, vai abandonar o seu filho único no escritório da Segurança Social? Ou será que o Sr. Gudgeon, director da Segurança Social, que esteve neste programa na semana passada, vai entregar a Pauline Mole o seu cheque há muito devido? Fiquem sintonizados para informação regular na Central, a vossa estação de rádio local.»

Sentámo-nos e ficámos à espera que telefonassem. Às 12.30 horas a minha mãe disse-me: «Veste o teu casaco, Adrian. Vou levar-te para seres abandonado.»

Às 12.35 horas quando íamos a sair, o telefone tocou. Era o meu pai a implorar que o nome dele não fosse mencionado.

A presença dos repórteres e jornalistas causou um minimotim na Segurança Social. Todos os pensionistas queriam contar as suas histórias. Os vagabundos ficaram frenéticos e começaram a gritar uns com os outros. Os empregados organizaram uma manifestação e a Polícia foi chamada.

Mitchell Malone estava a fazer uma reportagem de exterior e passou um disco chamado “Os Lunáticos Tomam Conta do Asilo”. Só fu abandonado quarenta e cinco minutos antes de o Sr. Gudgeon dar à minha mãe um «pagamento de emergência por necessidades» de £25.

Disse que havia de nos aguentar durante o fim-de-semana. Perguntou à minha mãe se o ia ver na segunda-feira, mas um sargento da Polícia disse: «Não, o senhor Gudgeon é que vai ver a senhora Mole a casa dela.»

O Sr. Gudgeon chupuo o bigode e disse: «Mas eu tenho uma reunião na segunda-feira de manhã.»

O sargento balançou um bocado o cassetête e disse: «Sim, a sua reunião é com a senhora Mole.» Depois foi andando e começou a bater nalguns vagabundos.

(…)

Categoria ensino secundário: texto nº 7

(…)

                Estava desejos de voltar a Cobh, de voltar aos barcos, gastar alguma desta energia e dest calor excessivos a raspar cascos ou coisa do género. Mas a segunda Parca era apenas uma das três, e Gideon tinha a sensação de ainda faltar bastante para regressar a casa.

                Sentiu-se mexer-se, notou o movimento rápido da camisa azul que ela pedira emprestada ao irmão, quando ela se pôs de pé, apoiada nas suas pernas compridas. Ele levantou-se e meteu o livro no bolso do casaco.

                Ela atravessou a plataforma com largas passadas, como se estivesse cheia de pressa. Mas como toda a gente fazia o mesmo, Gideon duvidou de que alguém notasse. Ela quase voava pelas ruas, enquanto ele corria atrás dela.

                Quando ela fez menção de empurrar a porta do banco, ele esqueceu-se da promessa que fizera de não lhe tocar e a sua mão fechou-se sobre a dela.

                – Se entrares ali pronta a dar uma dentada em alguém, as pessoas vão notar.

                – Estamos em nova Iorque, Jeitoso, ninguém nota coisa nenhuma.

                – Acalma-te, Cleo. Se queres andar à pancada comigo, tudo bem. Mas aqui e agora vê lá se te acalmas.

                Pensou que ali e agora a coisa que mais detestava nele era a capacidade de controlo.

                – Está bem. – Ofereceu-lhe um sorriso gelado. – Já arrefeci.

                – Eu espero aqui fora. – Afastou-se da porta.

                Pôs-se a observar o trânsito, os carros e as pessoas. Não viu ninguém que pudesse estar interessado nele, e acabara de chegar à conclusão de que quem quer que optasse por viver num sítio com tanta gente e com tanto barulho tinha problemas mentais ou para lá caminhava, quando Cleo voltou a sair.

                Ela fez-lhe um sinal com a cabeça e bateu ligeiramente com os dedos na mala que tinha ao ombro. Ele posicionou-se de maneira a que a mala e o seu conteúdo mais recente ficassem entre o seu corpo e o de Cleo.

                – Vamos de táxi – disse ele.

                – Está bem. Mas vamos parar num sítio. A Tia emprestou-me duzentos. Preciso da porcaria de umas roupas.

                – Não é altura para ires às compras.

                – Não vou às compras. Vou só comprar umas coisas. Estou suficientemente desesperada para me contentar com a Gap, e olha que tem muito pouco a ver comigo. Podemos ir a pé até à Quinta Avenida. – Quando acabou de falar já se encaminhava nessa direcção, o que não lhe deixou alternativa senão segui-la. – Depois, certificamo-nos de que ninguém nos anda a seguir, agarro numas T-shirts, nuns jeans, apanhamos um táxi e estamos em casa. E acho que a seguir vou queimar as roupas com que ando desde Praga.

                Ele podia ter argumentado, mas era um homem que sabia reconhecer rapidamente as opções que tinha. Podia metê-la num táxi à força e sentar-se em cima dela até chegarem a casa da Tia. Ou podia dar-lhe meia hora para fazer o que queria e precisava de fazer.

                (…)





Concurso “Páginas Soltas”

12 10 2011

Categoria: ensino básico – texto nº 4

(…)

Correu tudo bastante bem na terra da minha avó. Antes de chamar o táxi, ainda fui a tua casa para ver se o Diogo quereria ir comigo, mas a tua mãe estava sozinha e só me disse que ele não estava bem-disposto e que tinha ido dar uma volta com uns amigos. Paciência, fui sozinha.

O lar não fica mesmo em Sintra, mas é perto, só tive de andar um quarto de hora a pé com o caixote ao colo, mas não me importei, porque eram coisas da avó Ju que ali estavam. Cheguei à frente do portão e toquei à campainha. Na recepção, pedi para falar com o director, e a recepcionista disse-me que só estava lá a dona Amélia. Pouco depois, apareceu a tal senhora, que deve ter uns cinquenta anos e mau feitio. Expliquei-lhe o que estava ali a fazer e ela disse saber quem era a minha avó. Deu-me os pêsames (palavra horrível!) e, para me despachar, disse-me que podia deixar ali no gabinete dela o caixote, que estava entregue. Olhei-lhe o nariz empinado e pedi se podia visitar o lar. Surpreendeu-se, mas respondeu “Se faz questão… Olhe que não é sítio para uma menina da sua idade ver. Os velhinhos às vezes queixam-se muito e parecem muito tristes, o que nem sempre corresponde à verdade, compreende? É a idade, coitadinhos…». Respondi-lhe com a maior determinação «Então vamos lá ver esses tais velhinhos. Quem é que nos garante que hoje não possam estar alegres?». Julgo que ela percebeu que eu estava a gozá-la, mas não se manifestou e foi chamar uma outra senhora, a dona Odete, para me acompanhar durante a visita. A dona Odete foi muito mais simpática e respondeu a todas as minhas perguntas sobre as pessoa que ali estavam no lar. Explicou-me que a ala direita era a dos homens e a da esquerda das senhoras. Decidi-me então pela ala esquerda. A casa estava bastante limpa e arejada, a única coisa triste eram os olhares de algumas das velhinhas e o facto de não haver ali ninguém jovem. Quando cheguei à camarata onde estavam as senhoras mais idosas ou doentes, a dona Odete deu um longo suspiro que me deixou curiosa. Foi então que comentou: «É dor de alma, menina! Há famílias que nunca cá põem os pés, a não ser quando chamadas de urgência, percebe?» Fiz que sim com a cabeça e ela continuou: «Veja, por exemplo, ali a da cama três. Coitada, tem duas sobrinhas em Lisboa que ainda só vieram duas vezes desde que eu cá estou, e já aqui trabalho há quatro anos! Faz-me pena, a dona Emília. Quase não ouve, vê mal, esquece-se de tudo, já não conhece ninguém, mas passa a vida a falar nas sobrinhas e a dizer que ainda ontem cá estiveram… Arteriosclerose, sabe o que é?». Voltei a fazer-lhe que sim com a cabeça e tive uma ideia. Pedi à minha guia que fosse avisar a dona Emília que uma das sobrinhas estava ali e queria vê-la. A dona Odete sorriu, encolheu os ombros, mas fez-me a vontade. Uns segundos depois, estava sentada na beirinha da cama da dona Emília. Peguei-lhe na mão e fiquei calada, não fosse ela reconhecer, pela voz, que eu era uma estranha.

(…)

 

Categoria: ensino secundário – texto nº 4

(…)

«Só pode ser o nosso Bronco», disse Vincenzo. Olívia começou a rir, mas era um riso nervoso. Olhei para Nina, que estava sentada, hirta, a olhar para o balão.

«Este lugar assusta-me», disse ela, e abraçou-se, como se o vento se tivesse levantado. O homem de bigode aproximou-se e, ao reparar nas mulheres, tirou o boné com um gesto educado.

«Chamo-me Alípio», disse em italiano. «Venho buscar os tecidos para o senhor Bosco.»

Olívia saiu do carro e Nina passou-lhe os sacos de plástico com os tecidos. Alípio tomou-os nos braços estendidos, agradeceu com um aceno de cabeça, sorriu e regressou para junto do balão. Roger continuava a conversar com o presumível Bosco que, de braços cruzados, o olhava de cima com algum desprezo. Falavam em inglês, mas as palavras perdiam-se quase todas no ruído constante do maçarico, cuja chama mantinha o balão e a gôndola suspensos. Eu nunca tinh estado junto de um balão e, naquele ermo, àquela penumbra, parecia-me um objecto inacreditavelmente grande e, ao mesmo tempo, invulgarmente frágil. A gôndola era um pequeno cubo dentro do qual não caberiam mais de duas pessoas, com uma estrutura de metal que suportava o maçarico e, acima deste, a lágrima negra era uma bizarra nuvem sobre o descampado. Alípio pousou os sacos de plástico junto do balão e, subindo para a gôndola com a ajuda de uma pequena escada, desligou o maçarico. Subitamente, a voz de Bosco era audível, poderosa e rouca. «… que género de idiota és tu? Dois dias? Não consegues fazer nada sem manual de instruções? Eram só uns tecidos, não era uma equação de segundo grau», disse Bosco, num inglês com forte sotaque espanhol. Abanava a cabeça, as mãos na cintura. «Idiota».

Roger parecia um anão ao lado de Bosco; acatou o insulto sem contestar.

«Está entregue», disse o australiano, recuando devagar. Apontou para o carro. «Tenho de ir.»

«Sim, põe-te a andar», afirmou Bosco, sacando outra vez do bloco de notas que guardara no bolso de trás das calças. Parecia estar à beira de um acesso de raiva; depois tornou a chamar: «Ei, idiota. Diz à mulher que vamos jantar.»

Roger afastou-se rapidamente e entrou no carro. Estava rubro de vergonha.

«Vocês são muito próximos?», gozou o italiano. Furioso, Roger fez marcha atrás e, tornando a ligar os máximos, arrancou. Ao nosso lado, Bosco e Alipio observara o balão enquanto este murchava, o envelope desfazendo-se sobre a gôndola como um guardanapo usado. O descapotável avançou em direcção ao bosque escuro. Olhei uma vez para trás e registei aquela imagem que, a curta distância, era quase bela: duas figuras de rostos difusos no meio de um descampado, desinflando um enorme balão à luz fantasmagórica de dois holofotes pendurados dos ramos de uma árvore. Foi também nesse instante qu compreendi aquilo que Nina acabara de dizer – que aquele lugar a assustara – quando vi Bosco apanhar do chão e pôr às costas uma mochila, do interior da qual emergia o cano daquilo que parecia ser uma espingarda de caça.

(…)