5 Minutos de Leitura

30 01 2015

Segunda feira, 2 de Fevereiro de 2015

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Improviso

Estávamos no final do ano letivo 2011/2012 e fui com uma colega de Ciências Naturais acompanhar os alunos de 9.º ano na apresentação de um projeto desenvolvido no âmbito do prémio da Fundação Ilídio Pinho – Ciência na Escola. Cada projeto participante dispunha de um stand destinado à sua divulgação. Os alunos tinham desenvolvido o tema «Energia», tendo construído uma maqueta da escola e procedido à respetiva eletrificação, utilizando, para tal, um mini painel solar. Uma vez que a maqueta era muito grande, optou-se por levar uma apresentação em Prezi que permitisse dar a conhecer o projeto.
Chegados à Exponor, os alunos montaram o equipamento e a apresentação foi sendo passada aos visitantes ao longo da manhã, tendo sido projetada numa tela de madeira pintada de branco. A certa altura, e após uma visita aos restantes stands, os alunos já estavam um bocado cansados e resolveram entreter-se… Assim, continuaram a passar a apresentação, mas com uma inovação:o aluno que apresentava ia fazendo os movimentos com as mãos e com os braços em frente à tela, dando a impressão aos visitantes de que se tratava de um quadro interativo. Os alunos treinaram tão bem as transições da apresentação que se podia pôr em dúvida a presença do dito quadro naquele espaço.
Algumas pessoas que iam passando assistiam à apresentação muito sérias e no final iam espreitar a tela para se certificarem da existência ou não de um quadro interativo. Outras apercebiam-se da inovação dos alunos e riam-se, voltando em seguida com outras,
para lhes mostrar a peripécia. A certa altura tive de me afastar um pouco do stand, uma vez que aquela situação era tão insólita que não conseguia parar de rir!
Chegada a hora do almoço, e perante a ausência de monitores no stand, os alunos deixaram o seguinte aviso projetado na tela: «Por motivos de saúde mental, física e psicológica, os responsáveis pelo projeto foram almoçar. Para mais informações, sente-se na cadeira e espere pacientemente por nós!»
E assim se passou um dia diferente com as peripécias dos nossos alunos que tornaram a convivência e a cumplicidade entre professores e alunos muito especial!
Obrigada ao 9.º B por estes momentos!

Manuela Ortigão (Professora de Físico-Química)

Texto selecionado pela BE





5 Minutos de Leitura

29 01 2015

Sexta Feira,  30 de janeiro de 2015

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Uma Lição Nova

 

Ele compreendia tudo, aliás tinham-lhe ensinado na escola e no liceu, e aprendera nos livros, além de álgebra, história, línguas, desenho e geografia.

E, como era inteligente e fazia tudo o que os professores lhe recomendavam, tinha sido sempre o melhor aluno da classe, e passado com dezoitos, dezanoves e até mesmo vinte em não sei que disciplina.

Era o orgulho dos professores, a alegria dos colegas e a felicidade dos pais, mas nunca ninguém lhe tinha perguntado se ele próprio sentia orgulho, alegria ou felicidade. Parecia que isso não tinha importância. Do curso não faziam parte aulas de alegria, de felicidade ou de amor.

Limitaram-se a mandá-lo para férias, para uma quinta no meio da serra, porque trabalhara muito, precisava de descansar, para voltar cheio de saúde e força para o próximo ano lectivo.

– Estudo porque os meus pais me mandam, porque é preciso tirar um curso, para me fazer um homem, não porque goste – dizia ele ao professor.

E o professor era agora o criado da quinta, mais novo ainda, desde o alto da serra, até à beira do rio, onde tomavam banho os dois nus.

O professor andava descalço, metia as mãos na terra e não achava que ficavam sujas depois, conhecia os pássaros todos só por lhes ouvir o canto, sabia se ia chover ou fazer sol com muitos dias de antecedência, se havia coelhos nas tocas, se uma planta ia morrer ou dar fruto, e quando, se as uvas estavam boas para a vindima, e a madeira boa para queimar.

Sabia curtir peles e fazer vinho, montar um cavalo em pêlo, ordenhar as vacas e fazer queijos; bebia água pela concha da mão, andava ao sol e à chuva sem barrete, e não sabia ler. Tinha uma quantidade de irmãos como ele, e agradecia a Deus, mesmo sem rezar, mais do que a vida, o ter-lhos dado. Ria de tudo e era feliz como o homem mais feliz no mundo, que esse, nem sequer tinha camisa.

O aluno ouvia-o e olhava para ele espantado, aprendendo uma lição nova, que nunca ninguém lhe ensinara nem o tinham mandado estudar.

E quando acabaram as férias e tiveram de separar-se, abraçou com muita força aquele professor de quem ficara amigo, e escondeu duas lágrimas, porque sabia agora que ia ser um homem.

Ricardo Alberty, Relógio de Sol

Texto selecionado pela BE





5 Minutos de Leitura

28 01 2015

 

Quinta feira, 29 de Janeiro de 2015

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Close reading, “À Flor da Pele”

 

Com as mãos fechadas tropeçamos

Nas palavras que nem chegam à boca inteiras

Serão elas verdades ilusórias

ou ainda as coisas verdadeiras:

Objetos presentes do passado

em que molhamos as mãos primordiais

Objetos tão abjetos quando somos

o único presente e nada mais

Vertiginosamente recordamos

como foi beber do amor a sua água

Mas por que é que cerramos as mãos

como quem fecha os olhos?

Porque nos fascina o vidro do Inverno

os  livros  as roupas os corpos já ardidos

assim que novamente respiramos

o tempo em que fomos iludidos

Como fechamos as mãos ao amor

quando ele vem de madrugada e reacende

o tempo que era o nosso e o tremor

do instante em que tudo se concede

António Carlos Cortez





5 Minutos de Leitura

27 01 2015

Quarta feira, 28 de janeiro de 2015

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É Urgente o Amor

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

Eugénio de Andrade

Texto selecionado pela BE





5 Minutos de Leitura

26 01 2015

Terça feira, 27 de Janeiro de 2015

futuro 

Chegámos ao futuro

Há 30 anos, um cientista louco prometia levar-nos num DeLorean, a 140 quilómetros por hora… até 2015. Muitas das previsões de O regresso ao Futuro acabaram por tornar-se mesmo realidade

 

 

Há uma geração que nunca esquecerá o adolescente rebelde e o cientista maluco que se uniram para transformar um carro Delorean numa máquina do tempo, escapando in extremis a um grupo de terroristas líbios.

Agora que 2015 está aí, multiplicam-se as listas do que imaginávamos que ia acontecer e do que afinal não se concretizou. Chegou, por exemplo, a videoconferência. Não só está generalizada nas empresas como, mesmo lá em casa, quem é que ainda não falou por Skype? A televisão que o Marty McFly do futuro tem na sala é também uma versão rudimentar do que são os televisores Led de hoje e a petição em defesa da manutenção da Torre do Relógio é assinada por ele num dispositivo semelhante a um tablet. Além disso, a ideia da transmissão simultânea de vários canais na mesma televisão era muito à frente do seu tempo, e também chegámos lá. E até havia um canal a transmitir apenas paisagens, com músicas relaxantes… ideia que pode ser tão disparatada hoje como era nos anos 80 mas que está disponível nos quase infinitos pacotes da televisão por cabo. Também no ano de 2015 imaginado há 30 anos, Marty mostra a uma dupla de miúdos como as máquinas de jogos eram fantásticas nos anos 80. “Mas é preciso ligação? Isso é completamente estúpido”, ripostam. De facto, as consolas já funcionam sem fios e respondem aos movimentos do corpo.

Contudo, também houve previsões completamente ao lado. Assumia-se que a comunicação por fax seria a preferencial em 2015. Nada mais errado. E que dizer dos discos a laser? Na era digital, já ninguém usa CD’s. Os computadores mais recentes já não têm sequer forma de os ler.

Carlos Fiolhais não se deixa desanimar: “Nada mau quanto a concretizações! E sim, faltam os carros voadores, mas em 2015 continuarão os testes do carro da Google [que circula sem condutor]”, lembra. Com todo o buzz em torno de O Regresso ao Futuro, surgem também oportunidades de negócio. Preparam-se reedições para colecionadores e a estreia de um musical inspirado no filme. E dois objetos prometem esgotar assim que forem colocados à venda: o hoverboard, o skate que pairava sobre o chão, já existe, ainda que com limitações (só funciona sobre superfícies de cobre ou alumínio); e os famosos ténis Nike de Michael J. Fox foram fielmente recriados, incluindo os atacadores automáticos, que se apertam sozinhos, como que por magia. “Einstein dizia que o futuro vem sempre mais cedo do que se espera”, lembra Carlos Fiolhais.

“Nos laboratórios de todo o mundo, o que se faz é preparar o futuro, com uma sucessão de pequenos passos. A ficção científica nalguns casos acerta, noutros falha. E, por vezes, a realidade é mais surpreendente do que alguém poderia imaginar…

Revista Visão

Texto selecionado pela BE

 

 

 





5 Minutos de Leitura

23 01 2015

Segunda feira, 26 de Janeiro de 2015 

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   Os benefícios de ser grato      

 

‘Ser grato’ é uma das fórmulas mais poderosas de mudar a perspetiva das coisas quase de forma instantânea. É um facto que há sempre algo pelo qual devemos agradecer e isso ajuda-nos a manter um foco no que há de bom na vida.

 

A prática constante do ‘ser grato’ torna-nos mais felizes e saudáveis Alguns estudos apontam para que pessoas em estado de ‘agradecimento’ se sintam 25% mais felizes, mais otimistas e confiantes. Acresce a estes fatores positivos a hora e meia de exercício físico (a mais por semana) a que se predispõem fazer quando se sentem gratos. Quando se pratica o estado de ‘ser grato’, o otimismo surge de forma mais intensa. Em troca desse estado otimista ficamos mais saudáveis e mais felizes, o que se reflete na vida pessoal e profissional. O ‘ser grato’ resulta ainda num estado de pensamento claro e em decisões mais incisivas. O hábito mais frequente das pessoas felizes é o ‘ser grato’. As pessoas felizes notam, sentem, expressam, absorvem e praticam o estado de ‘ser grato’. Funciona ainda como um libertador de stress, um medidor de variações de humor, oferece benefícios para a prática de exercício e ajuda a melhorar os hábitos de sono.

A felicidade é uma escolha. Estas palavras são de facto fortes. Basicamente significa que controlamos quando estamos felizes ou não. Mas como manter um estado de felicidade? Há cinco elementos a seguir: aceitação, perdão, esquecer o dispensável, ‘ser grato’, deixar que as coisas boas entrem na nossa vida. Mesmo quando a forma como olhamos para as coisas muda drasticamente, há sempre dias em que tudo parece… menos bom. Acordamos mal-dispostos, o computador avaria, ficamos stressados porque a casa está uma confusão e por aí adiante. Mesmo que a forma de olhar o que acontece tenha mudado, não quer dizer que estas coisas não aconteçam. E embora sejamos capazes de reconhecer quando estamos a cair no ‘abismo’ da vitimização, há alturas em que precisamos de um ‘puxão’ para a realidade.

Quando nos permitimos perdoar abre-se uma porta que nos oferece a possibilidade de sermos ainda mais gratos para as pessoas e para as circunstâncias. Por vezes o perdoar não é tarefa fácil. Mas trabalhando na meditação é possível alcançar esse estádio.

Revista Visão

Texto selecionado pela BE





5 Minutos de Leitura

22 01 2015

Sexta Feira, 23 de janeiro de 2015

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The Dumpster Project: Professor vive durante um ano dentro de um contentor do lixo

A iniciativa inédita é da Universidade Huston Tillotson, em Austin, no Texas, Estados Unidos, e pretende sensibilizar as pessoas na área da sustentabilidade. Para isso, Jef Wilson, professor de ciência ambiental daquela universidade, e também um dos fundadores do “The Dumpster Project:”, resolveu participar ele próprio no projeto para provar que é possível viver com menos e de forma sustentável, ou seja, mostrar que é possível reduzir para 1% os gastos de energia de uma casa americana. Uma casa americana tem, em média, 230 metros quadrados. Na prática, viver durante um ano num contentor do lixo com três metros quadrados.

Wilson começou a aventura em fevereiro de 2014. O projeto passa por três fases: acampar num contentor sem qualquer conforto; transformar o contentor numa espécie de casa com um pequeno armário e uma cama e, finalmente, transformar o contentor numa incrível casa sustentada equipada com painéis solares e sistema de poupança de água, controlo de temperatura e redução de resíduos. Nesta última fase, o contentor apenas consome a quantidade de eletricidade produzida pelos painéis solares. E é aqui que reside o cerne da questão. Em relação à média dos lares americanos, a água passa de 1500 litros (por dia) para apenas 15. Na energia, a média é de 11.000 Kwh/ano, mas, no contentor, o valor deverá chegar aos zero. Wilson está atualmente na segunda fase. Nos primeiros tempos, apenas tinha um saco-cama, mas, ao longo do tempo, o contentor vai sendo equipado também com cozinha, máquina de lavar roupa e Wi-Fi. Completamente higienizada, a casa-contentor (localizada no próprio campus da universidade), tem hoje uma cama improvisada, alguns objetos de decoração e, claro, a roupa de Wilson. Já para a higiene, Wilson usa de momento os balneários da universidade, contudo, o objetivo a curto prazo passa pela construção de uma estrutura para o efeito do lado de fora do contentor. Depois de finalizar o projeto, Wilson deverá viajar pelos Estados Unidos com o intuito de dar palestras em escolas e universidades sobre a inédita iniciativa. Por oito mil euros, é possível ter uma casa-contentor amiga do ambiente.

Revista “Quero Saber”

Texto selecionado pela BE





5 Minutos de Leitura

21 01 2015

Quinta feira, 22 de janeiro de 2015

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Ó Mar Salgado

Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa

Texto selecionado pela BE





5 Minutos de Leitura

20 01 2015

Quarta feira, 21 de Janeiro de 2015

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Tenho quarenta janelas

nas paredes do meu quarto.

Sem vidros nem bambinelas

posso ver através delas

o mundo em que me reparto.

Por uma entra a luz do Sol,

por outra a luz do luar,

por outra a luz das estrelas

que andam no céu a rolar.

Por esta entra a Via Láctea

como um vapor de algodão,

por aquela a luz dos homens,

pela outra a escuridão.

Pela maior entra o espanto,

pela menor a certeza,

pela da frente a beleza

que inunda de canto a canto.

Pela quadrada entra a esperança

de quatro lados iguais,

quatro arestas, quatro vértices,

quatro pontos cardeais.

Pela redonda entra o sonho,

que as vigias são redondas,

e o sonho afaga e embala

à semelhança das ondas.

Por além entra a tristeza,

por aquela entra a saudade,

e o desejo, e a humildade,

e o silêncio, e a surpresa,

e o amor dos homens, e o tédio,

e o medo, e a melancolia,

e essa fome sem remédio

a que se chama poesia,

e a inocência, e a bondade,

e a dor própria, e a dor alheia,

e a paixão que se incendeia,

e a viuvez, e a piedade,

e o grande pássaro branco,

e o grande pássaro negro

que se olham obliquamente,

arrepiados de medo,

todos os risos e choros,

todas as fomes e sedes,

tudo alonga a sua sombra

nas minhas quatro paredes.

Oh janelas do meu quarto,

quem vos pudesse rasgar!

Com tanta janela aberta

falta-me a luz e o ar.

António Gedeão

Texto selecionado pela BE





5 Minutos de Leitura

19 01 2015

Terça feira, 20 de janeiro de 2015

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Quem abriu as portas do inferno?

A cratera de gás natural de Darvaza é uma bacia de 70 metros de largura situada no meio do deserto de Karakum, no Turquemenistão. A cratera, que foi criada quando um campo e uma plataforma de perfuração de gás natural aluíram em 1971, é chamada informalmente de “porta do/para o inferno” pela população local, pois arde há 42 anos.

As chamas foram instigadas quando uma equipa de perfuração da União Soviética decidiu que, depois do colapso da plataforma, a melhor forma de lidar com a grande quantidade de gás metano derramado era queimá-la. Na altura, os geólogos previram que o metano iria arder dentro de dias, mas quatro décadas depois, o gás natural continua a queimar, iluminando a região circundante por quilómetros.

Atualmente, a “porta para o inferno” é uma atração turística, com viajantes a afluírem à aldeia vizinha de Darvaza – que tem uma população de apenas cerca de 350 pessoas – vindos de todo o mundo. Tipicamente, os grupos turísticos visitam o local ao fim da tarde, pois o brilho ardente da cratera é mais dramático à pouca luz do anoitecer que durante o dia.

Revista “Quero saber”

Texto selecionado pela BE