5 Minutos de Leitura

29 04 2016

5 Minutos de Leitura

Sexta feira, 29 de abril de 2016

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As Crianças Adoecem no Inverno

 

As crianças adoecem no Inverno,
tossem de noite,
morres por elas nesses momentos
em que precisam de ti.

Vigias o seu sono,
entregas o teu, despertas com facilidade,
olhas uma a uma as horas que passam
como se todas as crianças nascessem no Inverno.

                                                                           Francisco José Viegas, in ‘O Puro e o Impuro’

Texto selecionado pela BE

 





5 Minutos de Leitura

28 04 2016

Quinta feira,  28 de abril  de 2016

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Água na Torneira

 Ao contrário do que imaginamos, encontrar mais petróleo não vai ser um dos grandes desafios do próximo século. Aquilo que se torna cada dia mais vital é encontrar água. Água boa para beber. Embora nos pareça remota a ameaça existe e paira sobre todos nós. Enquanto não tomarmos consciência desta realidade, as coisas não mudam e todos perdemos com isso. Quantas vezes nos acontece deixar as torneiras ligadas e a água a correr livremente mesmo sabendo que vai diretamente para o cano? Todos os dias fazemos os mesmos gestos e cumprimos os mesmos rituais sem nos darmos conta de que, sem querer, não estamos a acautelar o nosso futuro. E o dos nossos filhos.

Deixar uma torneira aberta enquanto lavamos os dentes (afinal basta um copo de água), enquanto passamos o gel no duche ou enquanto lavamos uma alface para a salada é quase um crime. E, no entanto, todos acabamos por cometer todos os dias pequenos, médios e grandes crimes desta natureza. Em certos países de África, um fio de água cristalina, pura e potável, vale mais do que um filão de ouro. Nos países onde a seca é endémica, onde tudo é milimetricamente racionado e contabilizado, onde as pessoas se habituaram a fazer milagres e a gerir a escassez mais extrema. Onde a vida corre a conta-gotas.

Na nossa sociedade muito poucos dão valor a coisas aparentemente tão insignificantes como um copo de  água, um caderno ou um lápis. No fundo, coisas muito fáceis de adquirir e que não nos passa pela cabeça que não existam à mão de semear.

É uma ilusão pensar e viver assim. Um caderno e um lápis em quase todos os países africanos e do Terceiro Mundo são um tesouro muito valioso. Ali, uma torneira que se abre e deita água à medida dos nossos desejos é uma miragem para milhões de pessoas.

Vale a pena realizar de uma vez por todas, que os recursos do Planeta são finitos e, cada vez, mais escassos. Vale a pena investir e começar já hoje e poupar água, lápis e papéis.

Só para começar.

Laurinda Alves

Texto selecionado pela BE





5 Minutos de Leitura

27 04 2016

Quarta feira,  27 de Abril de 2016

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Uma Casa

Na pedra das janelas de grandes vidros foram pousadas jarras com tulipas ardentes, cor de fogo, púrpura e amarelo. O sol entra pela manhã, muito cedo, e derrama-se pelo chão de madeira cor de mel. Àquela hora, tudo fica quente e silencioso, quase secreto. As folhas das árvores mexem com o vento e ouve-se um rumor vegetal antigo e puro. Inundadas de luz, as folhas de cima dos arbustos, mais verdes, transparecem e devolvem a certeza primitiva das estações. Precisam de ser cortadas mas ninguém se atreve a ficar sem elas, sem o recorte das sombras que desenham nas paredes brancas. Alguém há-de vir um dia aparar a sebe que cobre o muro de pedras e, então sim, as folhas verde claro, quase transparente, hão-de ser podadas. Um dia.

A camélia resistiu aos ventos e começou a florir. Muitas flores abertas e por abrir pesam agora nos seus ramos novos. Flores rosa-branco, perfeitas e densas. Sensuais e poderosas. A serra vê-se através dos vidros inteiros, por trás da camélia, da sebe, do muro de pedras e das árvores da casa. Enche o céu, define o horizonte e amplia o espaço. O tempo também. É uma serra de grandes montes e escarpas que descem até ao mar. Uma serra com árvores de tronco majestoso, coberto de musgo e com cheiro a resina. Uma serra com caminhos de sombra e terra fresca, molhada, salgada pelo mar que o vento traz. Em casa ouve-se a chuva e o vento mas nunca o mar que inunda a vista e corta a respiração mas não se deixa sentir. Embora muito próximo parece distante, plano e, quase sempre, demasiado quieto. A ilusão da sua quietude traz segurança e uma paz que jamais saberei definir. E é na abstração líquida daquele azul infinito que acordo e adormeço. Feliz por também pertencer àquela casa.

Laurinda Alves

Texto selecionado pela BE





5 Minutos de Leitura

26 04 2016

Terça feira, 26 de Abril de 2016

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 Dia do Livro e dos Direitos de Autor

 

Os benefícios da leitura por prazer

“Viajar pela leitura sem rumo, sem intenção. 
Só para viver a aventura que é ter um livro nas mãos.
É uma pena que só saiba disso quem gosta de ler.
Experimente!
Assim sem compromisso, você vai me entender.
Mergulhe de cabeça na imaginação!”

 

Clarice Pacheco

A internet oferece-nos muitas coisas boas (facto!) e não vou ficar aqui enumerando-as pois todos têm noção disso. No entanto, no meio de tantos benefícios, existem também  coisas não tão boas que a internet acaba por “tirar”. É triste, mas a leitura é uma delas.

Hoje em dia, as pessoas têm preguiça de ler, acham “chato”, um tédio, até uma perda de tempo! Gostam mais de ler o resumo de um livro do que a história completa. Preferem assistir ao filme em vez de ler o livro no qual foi baseado… Na verdade, qualquer coisa é melhor do que ler!

Tristes almas que não sabem o que é bom…

Ler é uma maravilha! Abrir um livro é como abrir a porta para um mundo novo, lê-lo é fazer parte desse mundo! É uma aventura sem igual! Emocionamo-nos, sofremos divertimo-nos, sentimos medo, apaixonamo-nos…fazemos parte daquela história!
A imaginação é a companheira constante, ela voa pelas palavras,  transforma-se a cada linha e não pára nunca, nem mesmo quando a história acaba. Ela já está pronta para outra aventura.
Além de toda essa magia, ler é uma distração pr`a lá de sadia. Ganhamos conhecimento, enriquecemos o vocabulário: escrevemos e falamos melhor, conhecemos palavras diferentes, aguça-nos o censo crítico, o raciocínio, muda o nosso modo de ver a vida, as coisas ao seu redor e até o modo como nos relacionamos com as outras pessoas…

Pena que algumas pessoas não saibam o que estão a perder! Um mundo de coisas boas, com toda certeza!

http://www.dastore.com

 

Texto selecionado pela BE





5 Minutos de Leitura

22 04 2016

Sexta feira, 22 de Abril de 2016 

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“Não é a Terra que está em perigo, é a nossa civilização”

Yann Arthus-Bertrand, autor do livro “A Terra Vista do Céu” fala-nos da sua mais recente exposição, Planet Ocean, patente no Oceanário de Lisboa, até 6 de Janeiro

 

No seu BI podíamos ter escrito que o autor é jornalista, fotógrafo, realizador, ecologista, mas explique-se aqui que Yann Arthus-Bertrand é, antes de mais, um homem empenhado numa causa. Um militante que se descobriu, recentemente, muito mais humanista. “Hoje, o meu combate passa mais por vivermos juntos e respeitarmos o outro do que pelas alterações climáticas “, insistiu, ao telefone, antes de aterrar em Lisboa, onde esteve na apresentação da exposição Planet Ocean, com imagens aéreas suas e fotografias subaquáticas do americano Brian Skerry, no Oceanário. Human, é um filme ambicioso que nos leva a dar a volta ao mundo, durante dois anos. Será a continuação de Home [O Mundo é a Nossa Casa], mas mistura a beleza do mundo com a beleza das palavras das pessoas, porque há gente que pode ensinar-nos muito. É um filme utopista e ingénuo sobre viver com os outros.

Ser ecologista é amar as árvores, as aves, os animais, mas é, sobretudo, gostar de si próprio e respeitar o outro. Algo que, talvez, os ecologistas puros e duros esqueceram.(…) A população quase triplicou. Somos 7 mil milhões de pessoas que têm fome, que consomem todos os dias. Essa energia, esse conforto, permite-nos consumir muito mais do que aquilo de que verdadeiramente precisamos. Hoje, vivemos numa espécie de superabundância pelo menos nos países ricos. Precisamos de ação, e pensa que esta utopia de vivermos juntos, de fazer com que as pessoas participem, é interessante.  (…) Hoje, o seu trabalho de militante é muito mais importante do que o de artista. É um jornalista empenhado, que tenta explicar as coisas através das imagens. E pensa que agir torna-nos felizes. Não devemos olhar o mundo com a atitude “Bem, a coisa vai passar-se assim, não há nada a fazer”. Claro que o facto de ser jornalista e de ter viajado pelo mundo e falado com muita gente permitiu-lhe compreender isso. Teve a sorte de viajar e conhecer pessoas que lhe explicaram muitas coisas. A vida é uma lenta aprendizagem. Aprendemos todos os dias e, quanto mais envelhecemos, mais percebemos que sabemos cada vez menos.   (…)

As pessoas que se empenham, que fazem, que amam, que partilham e dão a sua vida por uma causa são mais felizes do que as outras.  As pessoas que todos admiramos são a Madre Teresa, o Mandela… São essas (e não as que se tornam nas mais ricas do mundo) que nos impressionam. E são essas que  interessam. Pensa que precisamos de uma revolução. Não de uma revolução científica, porque não vamos trocar de repente os 800 milhões de barris de petróleo que consumimos todos os dias por uns painéis solares mais sofisticados, e nós somos incapazes de reduzir o consumo. Também não será uma revolução económica, porque a Economia escapa-nos e o que ela quer é consumo. E, muito menos,  uma revolução política, porque vivemos em democracia e temos os políticos que merecemos. Eles parecem-se connosco, não são melhores do que nós, não são líderes, são políticos com uma visão eleitoral.

Então, a única via é uma revolução espiritual. Não no sentido religioso, mas no sentido ético ou moral. “O que tenho direito de fazer”, “O que não posso fazer”, “O que posso fazer no meu dia a dia para não atacar tanto a Terra”

Há muitas coisas simples que podemos fazer no nosso dia a dia. Ou recusar. Não somos obrigados a comprar roupas com frequência, a trocar de telemóvel todos os anos…

(…) nós não somos culpados da nossa maneira de viver. Somos responsáveis. Essa é a grande diferença. Os ecologistas falaram demasiado de culpa, quando deviam falar de responsabilidade.

 

Ler mais: http://visao.sapo.pt/nao-e-a-terra-que-esta-em-perigo-e-a-nossa-civilizacao=f753046#ixzz2jfuRHj97

 

Artigo de Rosa Ruela

Texto selecionado e adaptado pela BE





5 Minutos de Leitura

21 04 2016

Quinta feira, 21 de Abril de 2016

Verás florir o Tempo (1974)

 

E começava a gente de juntar-se

e tanta que era estranha de se ver.

Não cabiam nas ruas principais

cada um desejando ser primeiro

e todos feitos d’um só coração.

 

Não sei se a História tem um fio se

não tem. Mas já de Santarém partiu

o Capitão. De negro vem vestido

em cima da Chaimite. Ouves? É o trote

das lagartas. Cavalos e cavalos.

 

O exército da noite e seus blindados.

Ó com quanto cuidado e diligência

escrever verdade sem outra mistura.

 

Andava o Povo levantado andando

um Major aos seus homens perguntando:

Adere ou não adere? É só. Mais nada.

E o segundo-sargento perfilando-se:

Há vinte anos que espero este momento.

 

Verás florir o Tempo. E as armas

desabrochadas: às três da madrugada.

Manuel Alegre

Texto selecionado pela BE





5 Minutos de Leitura

20 04 2016

Quarta feira, 20  de Abril de 2016

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O Prazer de Ler

Mais do que palavras, ler é saborear

Histórias tristes e belas, cenários de encantar

Mais do que ciências, ler é experimentar

Ler é sobretudo prazer… prazer de ler

Ler é não ter medo, ler é liberdade

Ler é ser honrado, ser nobre, ser elevado

Ler é viajar por terra, por rio e mar

Ler é sobretudo prazer… prazer de ler

Ler é ser capaz, ler é ser audaz

Ler é arriscado, por isso tem cuidado

Ler é vaguear de dia ou ao luar

Ler é sobretudo prazer… prazer de ler

Ler é mais do que tudo o que possas imaginar

Ler é ser alguém, alguém que tem para dar

Dar e receber, dar para viver

Ler é sobretudo prazer…prazer de ler!

Eliseu Alves

Texto selecionado pela bE





5 Minutos de Leitura

19 04 2016

Terça feira, 19 de abril  de 2016

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“ Música”

 

É a rainha dos sentidos

Entra nos nossos ouvidos

Como um bálsamo de vida;

Singela ou sofisticada

Ela é sempre escutada

De forma séria ou divertida.

 

Para ouvi-la é preciso estar

Com um brilho no olhar

Ou com olhos adormecidos;

Porque qualquer que ela seja

Ela ilumina com certeza

Todos os nossos sentidos.

 

Se sai uma nota mais alta

Do trompete ou da flauta

Logo o nosso ser se anima;

Esperando ouvir de seguida

Uma nota mais pungida

Numa melodia divina.

 

 

Na abertura de um solfejo

Abro os olhos e só vejo

Uma pauta à minha frente;

Uma porção de rabiscos

Que me põe os olhos piscos

Mas que todo mundo entende.

 

É algo com sabor divino

Que pode elevar um destino

Ou dele troçar cruelmente;

O som que se ouve e aprecia

E que nossa mente acaricia

Arquivando-a fielmente.

Sebastião Alves ( Jornal “O Valenciano)

Texto selecionado pela BE





5 Minutos de Leitura

18 04 2016

Segunda feira, 18  de Abril de 2016

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O pintor debaixo do lava-loiças

Esta história foi baseada num caso que aconteceu com os meus avós: um pintor refugiado que dormia debaixo do lava-loiças. O verdadeiro nome do pintor era Ivan Sors, e não Jozef. Mudei-lhe o nome próprio porque não conheço a história de Ivan Sors, para além do seguinte resumo: nasceu em Bratislava em 23 de Novembro de 1895, e em 1929 ilustrou um livro sobre tolerância religiosa. Nessa altura Sors vivia nos EUA, pois a edição desse livro é americana. Não sei porque voltou a Bratislava ou pelo menos à Europa, mas em 1940 ( os quadros estão assinados e com data) estava em casa do meu avô e dormia debaixo do lava-loiças. Pintou realmente uma crucifixão e um grande retrato da minha avó Rosa vestida de minhota. Esse quadro, que hoje tem muitos furinhos porque o meu pai e o meu tio se divertiram a atirar-lhes setas, ainda está pendurado à entrada da casa dos meus avós. Sors morreu nos EUA em 1950, o que significa que conseguiu voltar.

Texto extraído do livro “ O Pintor Debaixo do Lava-Loiças”  de Afonso Cruz (CNL)

Texto selecionado pela BE

 





5 Minutos de Leitura

15 04 2016

Sexta feira, 15 de abril de 2016

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Saber Perdoar

Viver todos os dias sem raiva ou ressentimentos não é fácil mas pode ser um propósito de vida. Mais do que uma ambição ou utopia, é uma atitude interior. A consciência de que quanto mais julgamos, mais seremos julgados e quanto mais perdoamos, mais seremos perdoados ajuda incrivelmente a diluir tensões. Embora pareça um pressuposto cristão, a realidade prova que também é de uma lei universal que se trata. Senão vejamos. Acumular a irritação, viver permanentemente indignado ou deixar-se consumir por sentimentos de contrariedade e frustração é uma tentação mais frequente do que imaginamos. Pior, é infinitamente mais fácil adotar uma postura de ira do que apostar numa atitude construtiva e contagiante. Ficar contra os outros, culpar tudo e todos e ser implacável no julgamento que fazemos dos que estão à nossa volta é um impulso demasiado comum. Acontece com todos, a toda a hora, e esse é um dos grandes dramas modernos: sermos incapazes de ficar imunes à pequena e média ofensa do dia-a-dia. Ficamos facilmente zangados e sabemos sempre quem tem a culpa. Geralmente são os outros (nunca nós mesmos, note-se) e é contra eles que ficamos. Uns engolem a raiva e tornam-se amargos enquanto outros esperam pela primeira oportunidade de vingança mas, na verdade, ambas as versões revelam uma incapacidade de neutralizar sentimentos negativos. Uns e outros eternizam lutas mais ou menos surdas e desperdiçam-se a transformar pequenos nadas em grandes questões.

Claro que existem as grandes ofensas e as atitudes que magoam profundamente mas essas pertencem a outra casta e merecem ser interiorizadas e analisadas com recuo e ponderação. Acima de tudo precisam de tempo (por vezes muito tempo, mesmo) para se diluirem, deixarem de doer e, porventura, fazer algum sentido. Perdoar aos outros as suas faltas é extraordinariamente difícil e, algumas vezes, parece muito pouco eficaz. Temos a ilusão, aliás, de que quanto mais perdoarmos e esquecermos mais vítimas dos outros seremos. A realidade prova exatamente o contrário (e não apenas aos crentes, leia-se) e, na verdade, é fácil demonstrar que quanto mais perdoamos mais seremos perdoados. Quanto mais conseguirmos esquecer as falhas dos outros mais os outros esquecem as nossas e quanto menos os julgarmos, menos seremos julgados. A realidade prova ainda outra coisa essencial: quanto mais nos perdoamos a nós mesmos, maior será a nossa capacidade de diluir o rancor e neutralizar sentimentos negativos. Em resumo, saber perdoar é não dar demasiada importância, aceitar que todos temos limitações e resistir à tentação universal de alimentar pequenos e grandes ódios de estimação.

Laurinda Alves

Texto selecionado pela BE