Sexta feira, 22 de Abril de 2016
“Não é a Terra que está em perigo, é a nossa civilização”
Yann Arthus-Bertrand, autor do livro “A Terra Vista do Céu” fala-nos da sua mais recente exposição, Planet Ocean, patente no Oceanário de Lisboa, até 6 de Janeiro
No seu BI podíamos ter escrito que o autor é jornalista, fotógrafo, realizador, ecologista, mas explique-se aqui que Yann Arthus-Bertrand é, antes de mais, um homem empenhado numa causa. Um militante que se descobriu, recentemente, muito mais humanista. “Hoje, o meu combate passa mais por vivermos juntos e respeitarmos o outro do que pelas alterações climáticas “, insistiu, ao telefone, antes de aterrar em Lisboa, onde esteve na apresentação da exposição Planet Ocean, com imagens aéreas suas e fotografias subaquáticas do americano Brian Skerry, no Oceanário. Human, é um filme ambicioso que nos leva a dar a volta ao mundo, durante dois anos. Será a continuação de Home [O Mundo é a Nossa Casa], mas mistura a beleza do mundo com a beleza das palavras das pessoas, porque há gente que pode ensinar-nos muito. É um filme utopista e ingénuo sobre viver com os outros.
Ser ecologista é amar as árvores, as aves, os animais, mas é, sobretudo, gostar de si próprio e respeitar o outro. Algo que, talvez, os ecologistas puros e duros esqueceram.(…) A população quase triplicou. Somos 7 mil milhões de pessoas que têm fome, que consomem todos os dias. Essa energia, esse conforto, permite-nos consumir muito mais do que aquilo de que verdadeiramente precisamos. Hoje, vivemos numa espécie de superabundância pelo menos nos países ricos. Precisamos de ação, e pensa que esta utopia de vivermos juntos, de fazer com que as pessoas participem, é interessante. (…) Hoje, o seu trabalho de militante é muito mais importante do que o de artista. É um jornalista empenhado, que tenta explicar as coisas através das imagens. E pensa que agir torna-nos felizes. Não devemos olhar o mundo com a atitude “Bem, a coisa vai passar-se assim, não há nada a fazer”. Claro que o facto de ser jornalista e de ter viajado pelo mundo e falado com muita gente permitiu-lhe compreender isso. Teve a sorte de viajar e conhecer pessoas que lhe explicaram muitas coisas. A vida é uma lenta aprendizagem. Aprendemos todos os dias e, quanto mais envelhecemos, mais percebemos que sabemos cada vez menos. (…)
As pessoas que se empenham, que fazem, que amam, que partilham e dão a sua vida por uma causa são mais felizes do que as outras. As pessoas que todos admiramos são a Madre Teresa, o Mandela… São essas (e não as que se tornam nas mais ricas do mundo) que nos impressionam. E são essas que interessam. Pensa que precisamos de uma revolução. Não de uma revolução científica, porque não vamos trocar de repente os 800 milhões de barris de petróleo que consumimos todos os dias por uns painéis solares mais sofisticados, e nós somos incapazes de reduzir o consumo. Também não será uma revolução económica, porque a Economia escapa-nos e o que ela quer é consumo. E, muito menos, uma revolução política, porque vivemos em democracia e temos os políticos que merecemos. Eles parecem-se connosco, não são melhores do que nós, não são líderes, são políticos com uma visão eleitoral.
Então, a única via é uma revolução espiritual. Não no sentido religioso, mas no sentido ético ou moral. “O que tenho direito de fazer”, “O que não posso fazer”, “O que posso fazer no meu dia a dia para não atacar tanto a Terra”
Há muitas coisas simples que podemos fazer no nosso dia a dia. Ou recusar. Não somos obrigados a comprar roupas com frequência, a trocar de telemóvel todos os anos…
(…) nós não somos culpados da nossa maneira de viver. Somos responsáveis. Essa é a grande diferença. Os ecologistas falaram demasiado de culpa, quando deviam falar de responsabilidade.
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Artigo de Rosa Ruela
Texto selecionado e adaptado pela BE